terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Resenha: Capitalismo, Socialismo e Democracia (Joseph Schumpeter)


Schumpeter e a sua destruição criativa dariam valiosa contribuição para a Ciência Econômica ao mostrar o caráter revolucionário da economia

destruição criativa, democracia, socialismo e capitalismo


É comum no futebol a expressão “safra” para designar determinado período temporal no qual grandes talentos emergiram. A safra brasileira dos anos 2000 contava com Ronaldo “fenômeno”, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Adriano e Kaká. No plano econômico, a safra austríaca no início do século passado contava com nomes como Ludwig von Mises, Gottfried Haberler, Karl Popper (filósofo, mas que discursava sobre economia), Friedrich von Hayek e Joseph Schumpeter, o autor do livro Capitalismo, socialismo e democracia. Era uma verdadeira seleção.
No livro, Schumpeter argumenta que o capitalismo é um sistema dinâmico (portanto, não estacionário), caracterizado por abruptas revoluções tecnológicas que alteram as estruturas vigentes, isto é, modificam as empresas que são líderes, as quais possuem a maior parte do mercado e, desse modo, ditam o funcionamento de determinado segmento da economia. É um jogo no qual o status quo pode ser rapidamente perdido em virtude das inovações nos métodos produtivos, culminando em produtos mais sofisticados e complexos.
Para realizar essas inovações, as firmas precisam dispender grande volume de dinheiro para pesquisa e desenvolvimento, sendo que o resultado não necessariamente dará origem a um produto com maior valor agregado. Com isso, é a figura da grande empresa que emerge como ponto essencial para o processo inovador, pois esta possui capacidade para direcionar parte do capital para o setor de pesquisa. Consequentemente, a concorrência seria mais restrita, envolvendo poucos players: “a concorrência imperfeita é (...) uma das principais características da indústria moderna”. Mais importante do que isso, é que “a grande empresa transformou-se no mais poderoso motor [do] progresso e, em particular, da expansão a longo prazo da produção total”.
Assim chegamos a uma das principais contribuições de Schumpeter para a teoria econômica, a destruição criativa. O capitalismo promove a “mutação industrial que revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos”, ou seja, os novos produtos e as firmas que os detêm expulsam os antigos produtos e as respectivas firmas que os produziam – assim confirmando e afirmando o caráter revolucionário e dinâmico do capitalismo.
O autor também se aventura no campo político, dando uma definição para a democracia. Esta seria caracterizada por ser um mecanismo institucional “para a tomada de decisões políticas, no qual o indivíduo adquire o poder de decidir mediante uma luta competitiva pelos votos do eleitor”. Definição mais próxima da realidade e menos idealista, conforme somos tentados a pensar pela mídia. O autor prossegue: a “democracia significa apenas que o povo tem oportunidade de aceitar ou recusar aqueles que o governarão (...) é o governo dos políticos”.
A influência de Schumpeter foi tão forte que ainda hoje artigos científicos são publicados nos principais periódicos de economia (Quarterly journal e Americaneconomic review) utilizando a destruição criativa como mola central do crescimento econômico. Modelos de crescimento são erigidos sob esse conceito. À luz desses desdobramentos, podemos avaliar a importância e a perspicácia de Schumpeter na compreensão do capitalismo.

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